sábado, 4 de dezembro de 2010

CONHEÇA MAIS A RESTART

Uma hora antes de um show em Sorocaba, no interior de São Paulo, o carro da banda Restart é cercado por uma pequena multidão de adolescentes.

Em uma cena que se tornou rotina antes das apresentações da banda, os gritos apaixonados e os inevitáveis sinais de coração com as mãos se misturam a palavrões e gestos obscenos. Alguns acamparam desde a manhã na frente do hotel, em busca de um autógrafo. Outros passaram a tarde inteira esperando apenas para xingar. A maior parte da atenção se dirige ao vocalista da banda, Pe Lanza, de 18 anos.

Mais tarde, quando a banda sobe ao palco, os críticos ficam do lado de fora e a histeria dos fãs atinge o ápice. Com seu corpo franzino, cabelos espetados e calça verde-limão perigosamente abaixo da linha da cintura, Pe Lanza está pronto para amar.

Assistir a um show do Restart – o maior fenômeno adolescente atual no país – pode ser um poderoso exercício de autoestima e uma cura para a solidão.


Entre uma música e outra, a banda despeja declarações de amor sobre os fãs. “A gente sempre amou vocês.” “Nós somos completamente apaixonados por este público, e agora vamos cantar uma música para vocês também se apaixonarem pela gente.” “A gente tentou passar só um pouquinho deste amor e deste carinho que a gente sente por vocês: sintam-se beijados e abraçados.”

Quando as demonstrações de amor mútuo são interrompidas por uma canção, as melodias e letras açucaradas reiteram a mensagem. A cada verso que eu escrevo/só aumenta esse amor em mim, dizem os versos de “Esse amor em mim”. A julgar pelo entusiasmo do público e da banda, fica difícil imaginar como o amor ainda pode aumentar.

“A gente tenta espalhar um pouco de amor e de carinho no que a gente faz, nas nossas roupas e nas nossas músicas”, afirma Pe Lanza. “O mundo está tão escrachado, tem gente tão novinha se afundando em drogas, deixando a família para trás. A gente tenta mostrar para a galera que dá para se divertir com coisas legais.” No perfil de Pe Lanza no Twitter, por exemplo, a rebeldia dos astros do rock dá lugar a elogios à mãe. Embora rejeite o rótulo de bom moço, ele diz que, se o mundo fosse dividido entre bonzinhos e bad boys, a banda estaria do lado dos primeiros. Por isso, assume o papel de espalhar as “coisas boas” entre os fãs. Não importa qual seja a pergunta para Pe Lanza, as palavras “amor”, “carinho” e “galera” sempre aparecem na resposta. Afinal, “se não fossem o amor e o carinho dessa galera, a Restart não seria nada”.

Como em muitos romances da geração à qual a banda pertence, o flerte começou pela internet, onde o já famoso sinal com as mãos é traduzido como “S2”. Embora eles tenham começado a tocar aos 12 anos, quando Pe Lanza ainda era Pedro Gabriel Lanza Reis e as roupas coloridas estavam longe de inspirar uma marca da banda, a Restart só ficou conhecido há dois anos, graças ao MySpace. A forte interação com os fãs ajudou a divulgar as primeiras músicas, colocadas à disposição do público para download.

“No primeiro show que fizemos depois de lançar as músicas no MySpace, a plateia já sabia todas as letras”, afirma o guitarrista Pe Lu, compositor da maioria dos sucessos da banda. A devoção dos primeiros fãs fez com que a Restart atingisse públicos maiores e ganhasse fama antes mesmo de chegar às rádios. O papel que desempenharam é reconhecido por toda a banda, que os apelidou de “família Restart”. Mesmo quando a banda se tornou um sucesso e as viagens ficaram mais frequentes, a internet continuou a ser uma maneira de manter a família Restart unida, por meio de mensagens em redes sociais.

Se a Restart e seus fãs são uma família, Pe Lanza é o filho preferido. Antes do sucesso, seu visual exótico (que inclui óculos grandes, com lentes sem grau) provavelmente provocaria estranhamento. Após a fama, porém, ele se tornou um símbolo sexual adolescente: seu nome é o mais gritado pelas fãs, e um destaque constante nos cartazes com mensagens de amor. No Twitter, ele conta com 576 mil seguidores – apaixonados. “Ele tem um jeito humilde de ser, trata bem as fãs, está sempre brincando. E acho ele muito bonito, muito alegre”, diz Nathália Portal, de 15 anos, do fã-clube Street Team. “É o meu favorito pelo jeito como trata as fãs. Ele conversa com o público, representa muito para a galera”, diz a fisioterapeuta Vanessa Junqueira, de 24 anos, fundadora do fã-clube Esse Lanza em Mim. A elas, Pe Lanza responde no palco: “Vocês sempre vão estar com a gente bem aqui, ó”. Ali, bem no S2.

O sucesso de Pe Lanza com o público feminino logo chamou a atenção dos rapazes, que passaram a imitar seu estilo. Um exemplo é Edimar Gonçalves, de 18 anos – ou Edi Lanza, desde que assumiu a função de cover do cantor, há seis meses. Seu depoimento é um testemunho do poder transformador da Restart... e do amor. “Eu era um menino que quase não saía de casa. Falaram que eu era parecido com o Pe Lanza, aí deixei o cabelo crescer, comecei a usar as mesmas roupas que ele e sigo o mesmo estilo. Nossa senhora, em todo show a que eu vou as fãs me puxam, é muito legal. Às vezes elas até pagam para eu ir. Minha vida amorosa melhorou muito; é muito legal ver o carinho das meninas.”

Com tanta devoção dos fãs, só faltava o aval da crítica. Em 2010, a banda conquistou cinco prêmios no Video Music Brasil, principal premiação do rock nacional. O hit “Recomeçar” foi escolhido como melhor música no prestigiado Prêmio Multishow de Música Brasileira. A banda também foi homenageada como revelação no Prêmio de Música Digital – um tributo às origens de seu sucesso. As conquistas colocam a banda diante de um desafio: depois de conquistar o público e a crítica no Brasil, por onde continuar a espalhar o amor? O próximo álbum da banda, "Restart By Day", chega às lojas nesta semana com seis músicas em português e seis em espanhol. O lançamento incluiu apresentações no Uruguai e na Argentina, onde as músicas da banda já estão entre as mais tocadas nas rádios. Como diz Pe Lanza a seu público, “assim meu coraçãozinho não aguenta”.


















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